terça-feira, 6 de abril de 2010

2. Linhas de vida - Início [Paris de Atget]



No começo de fevereiro de 1892, o jornal franco-belga Revue des Beaux-arts publicou um artigo sobre um negócio recentemente formado. Reportava que o fotógrafo parisiense Atget oferecia a artistas, fotografias de paisagens, animais, flores, edifícios e outros objetos. Também oferecia reproduções de quadros e outros materiais de fonte para pintores. A oferta de Atget era sintomática de uma tendência internacional entre artistas e artífices para se apoiarem em imagens e motivos já prontos. Era uma moda controversa. Um crítico anônimo, escrevendo no jornal Art et critique, avisou sardonicamente os artistas para que fossem ao número 5 da rue de la Pitié e comprassem fotografias de Atget, ao invés de continuarem a pagar modelos para posarem para eles.
Por essa altura, Atget já estava na casa dos 30 anos. Havia abandonado uma carreira de ator em teatro de província, e experimentara subseqüentemente, e em vão, ganhar a vida como pintor. A sua decisão de tentar a sorte como fotógrafo foi, portanto, bastante realista. As suas primeiras fotografias foram, provavelmente, tiradas por volta de 1888, e haviam mostrado que a técnica, embora sofisticada, não requereria qualquer treino dispendioso. E enquanto pintor que fora, estava bem ciente da necessidade de materiais visuais nos estúdios dos artistas e artífices.
A estréia de Atget como fotógrafo profissional no início dos anos 90 do século XIX foi extremamente convencional, resultado de uma decisão consciente de se colocar à disposição de outros artistas. Pôs na sua porta uma pequena placa com as palavras “Documents pour artistes”. Mais tarde reuniu os mesmos motivos que foram referidos no jornal, e colocou-os à venda na série “Paysage – Documents divers” [Paisagens – Documentos diversos]. Vendeu ainda estudos figurativos individuais.
O sucesso tardou. Como podemos compreender dos poucos documentos que sobreviveram, planejava criar gradualmente um círculo de clientes através dos contatos que tinha com outros aristas. Estes incluíam pintores, escultores, ilustradores, gravadores, arquitetos e designers de palco e de interiores. Sem dúvida que suas primeiras vendas, a artistas de renome como os acadêmicos Luc Olivier Merson (1846-1920) e Edouard Detaille (1848-1912) o ajudaram a estabelecer uma reputação. Dependendo das recomendações de seus clientes habituais – colecionadores interessados na velha Paris, assim como várias Bibliotecas e editoras – Atget expandiu firmemente os seus negócios. Registrava as suas visitas aos clientes e os nomes de potenciais compradores num livro de endereços muito bem cuidado – o seu “répertoire” – que revelava uma rede muito ampla de contatos profissionais.

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